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EPM — Estudo e Prática da Mediunidade

PROGRAMA II — MÓDULO DE ESTUDO Nº I
FUNDAMENTAÇÃO ESPÍRITA — AS REUNIÕES MEDIÚNICAS

Roteiro 1


Reuniões mediúnicas sérias: natureza e características


Objetivos específicos: Conceituar reunião mediúnica. — Analisar a natureza e as características das reuniões mediúnicas sérias.



SUBSÍDIOS


Amados, não creiais em todo Espírito, mas provai se os Espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. João (1 João, 4.1)


1. CONCEITO


A Reunião Mediúnica é uma atividade privativa, na qual se realiza assistência aos Espíritos necessitados, integrada por trabalhadores que possuam conhecimento espírita e conduta moral compatível com a seriedade da tarefa.


2. NATUREZA DAS REUNIÕES MEDIÚNICAS SÉRIAS


Em O Livro dos Médiuns, Allan Kardec informa que as reuniões mediúnicas segundo o gênero ou natureza são classificadas em: frívolas, experimentais e instrutivas. (8)


As reuniões frívolas se compõem de pessoas que só veem o lado divertido das manifestações, que se divertem com as facécias [gracejos] dos Espíritos levianos, aos quais muito agrada essa espécie de assembleia, a que não faltam por gozarem nelas de toda a liberdade para se exibirem. É nessas reuniões que se perguntam banalidades de toda sorte, que se pede aos Espíritos a predição do futuro, que se lhes põe à prova a perspicácia em adivinhar as idades, ou o que cada um tem no bolso, em revelar segredinhos e mil outras coisas de igual importância. […] O simples bom-senso diz que os Espíritos elevados não comparecem às reuniões deste gênero, em que os espectadores não são mais sérios do que os atores. (9)


Outro inconveniente de tais reuniões é dar ao principiante espírita uma falsa ideia da Doutrina Espírita. «Os que só têm frequentado reuniões dessa espécie, não podem tomar a sério uma coisa que eles veem tratar irrefletidamente pelos próprios que se dizem adeptos. Um estudo antecipado lhes ensinará a julgar do alcance do que veem, a separar o bom do mau.» (17)


As reuniões experimentais têm particularmente por objeto a produção das manifestações físicas. Para muitas pessoas, são um espetáculo mais curioso que instrutivo. […] Nada obstante, as experiências desta ordem trazem uma utilidade, que ninguém ousaria negar, visto terem sido elas que levaram à descoberta das leis que regem o mundo invisível e, para muita gente, constituem poderoso meio de convicção. Sustentamos, porém, que só por só não logram iniciar a quem quer que seja na ciência espírita, do mesmo modo que a simples inspeção de um engenhoso mecanismo não torna conhecida a mecânica de quem não lhe saiba as leis. Contudo, se fossem dirigidas com método e prudência, dariam resultados muito melhores. (10)


É oportuno lembrar que as reuniões experimentais foram muito comuns à época de Kardec e logo após a sua desencarnação. Sob a orientação de pessoas esclarecidas e sérias, essas reuniões produziram (e produzem) bons resultados. Somente a título de exemplo, recomendamos a leitura do livro Fatos Espíritas, edição FEB, que relatam experiências de efeitos físicos, sobretudo as de materializações, realizadas pelo cientista inglês William Crookes. Tais reuniões ainda persistem nos dias atuais, porém despojadas do caráter “experimental” do passado caracterizando-se pela doação fluídica (passe), irradiação mental, magnetização da água e prece.

«As reuniões instrutivas apresentam caráter muito diverso e […] insistiremos mais sobre as condições a que devem satisfazer. A primeira de todas é que sejam sérias, na integral acepção da palavra. […] Não basta, porém, que se evoquem bons Espíritos; é preciso, como condição expressa, que os assistentes [participantes] estejam em condições propícias, para que eles assintam em vir. Ora, a assembleias de homens levianos e superficiais, Espíritos superiores não virão como não viriam quando vivos [encarnados].» (11)


A instrução espírita não abrange apenas o ensinamento moral que os Espíritos dão, mas também o estudo dos fatos. Incumbe-lhe a teoria de todos os fenômenos, a pesquisa das causas, a comprovação do que é possível e do que não o é; em suma, a observação de tudo o que possa contribuir para o avanço da ciência. Ora, fora erro acreditar-se que os fatos se limitam aos fenômenos extraordinários; que só são dignos de atenção os que mais fortemente impressionam os sentidos. A cada passo, eles ressaltam das comunicações inteligentes e de forma a não merecerem desprezados por homens que se reúnem para estudar. Esses fatos, que seria impossível enumerar, surgem de um sem-número de circunstâncias fortuitas. (13)


Essas reuniões são dirigidas, no Plano espiritual, por Espíritos esclarecidos, que definem uma programação de trabalhos, às vezes francamente percebida pelos integrantes encarnados. É comum a manifestação de benfeitores espirituais que comparecem para prestar orientações e esclarecimentos aos encarnados, bem como acompanhar e auxiliar os sofredores, encarnados e desencarnados. Há reuniões instrutivas que podem ser voltadas exclusivamente para o atendimento aos Espíritos desencarnados em estado de maior ou menor sofrimento. Ocorrem regularmente no Centro Espírita, representando a oportunidade para a educação das faculdades mediúnicas e da prática da caridade, exercida de forma anônima e desinteressada.


3. CARACTERÍSTICAS DAS REUNIÕES MEDIÚNICAS SÉRIAS


«Uma reunião só é verdadeiramente séria, quando cogita de coisas úteis, com exclusão de todas as demais. Se os que a formam aspiram a obter fenômenos extraordinários, por mera curiosidade, ou passatempo, talvez compareçam Espíritos que os produzam, mas os outros [os sérios] daí se afastarão. Numa palavra, qualquer que seja o caráter de uma reunião, haverá sempre Espíritos dispostos a secundar as tendências dos que a componham.» (12) A influência do meio, assim como a influência moral dos participantes, garantem ou não, a seriedade de uma reunião mediúnica.


Fora erro acreditar alguém que precisa ser médium, para atrair a si os seres do mundo invisível. Eles povoam o espaço; temo-los incessantemente em torno de nós, ao nosso lado, vendo-nos, observando-nos, intervindo em nossas reuniões, seguindo-nos, ou evitando-nos, conforme os atraímos ou repelimos. A faculdade mediúnica em nada influi para isto: ela mais não é do que um meio de comunicação […]. Partindo deste princípio, suponhamos uma reunião de homens levianos, inconsequentes, ocupados com seus prazeres; quais serão os Espíritos que preferentemente os cercarão? Não serão decerto Espíritos superiores, do mesmo modo que não seriam os nossos sábios e filósofos os que iriam passar o seu tempo em semelhante lugar. Assim, onde quer que haja uma reunião de homens, há igualmente em torno deles uma assembleia oculta, que simpatiza com suas qualidades ou com seus defeitos, feita abstração completa de toda ideia de evocação. […] Se, numa assembleia fútil, chamarem um Espírito superior, este poderá vir e até proferir algumas palavras ponderosas, como um bom pastor que acode ao chamamento de suas ovelhas desgarradas. Porém, desde que não se veja compreendido, nem ouvido, retira-se, como em seu lugar o faria qualquer de nós, ficando os outros com o campo livre. (5)


Importa considerar que nem «[…] sempre basta que uma assembleia seja séria, para receber comunicações de ordem elevada. Há pessoas que nunca riem e cujo coração, nem por isso, é puro. Ora, o coração, sobretudo, é que atrai os bons Espíritos. Nenhuma condição moral exclui as comunicações espíritas; os que, porém, estão em más condições, esses se comunicam com os que lhes são semelhantes […].» (6) Percebe-se, pois, a enorme influência do meio sobre a natureza das comunicações mediúnicas. «Em resumo: as condições do meio serão tanto melhores, quanto mais homogeneidade houver para o bem, mais sentimentos puros e elevados, mais desejo sincero de instrução, sem ideias preconcebidas.» (7)

A moral dos participantes imprime significativa influência na seriedade da reunião mediúnica. Os médiuns — fazemos referências, aqui, a qualquer membro do grupo mediúnico, sem exceção — moralizados fazem bom uso das suas faculdades psíquicas. Em sentido oposto, os que «[…] delas fizerem mau uso, serão punidos duplamente, porque têm um meio a mais de se esclarecerem e o não aproveitam. Aquele que vê claro e tropeça é mais censurável do que o cego que cai no fosso.» (2) A propósito, esclarece Allan Kardec:


Se o médium, do ponto de vista da execução, não passa de um instrumento, exerce, todavia, influência muito grande, sob o aspecto moral. Pois que, para se comunicar, o Espírito desencarnado se identifica com o Espírito do médium, esta identificação não se pode verificar, senão havendo, entre um e outro, simpatia e, se assim é lícito dizer-se, afinidade. A alma exerce sobre o Espírito livre uma espécie de atração, ou de repulsão, conforme o grau da semelhança existente entre eles. Ora, os bons têm afinidade com os bons e os maus com os maus, donde se segue que as qualidades morais do médium exercem influência capital sobre a natureza dos Espíritos que por ele se comunicam. Se o médium é vicioso, em torno dele se vêm grupar os Espíritos inferiores, sempre prontos a tomar o lugar aos bons Espíritos evocados. As qualidades que, de preferência, atraem os bons Espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade do coração, o amor do próximo, o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os afastam são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões que escravizam o homem à matéria. (4)


O médium moralizado segundo as diretrizes evangélicas transforma-se em pessoa de bem, apta a exercer seus dons psíquicos com retidão e honradez, em benefício próprio e da coletividade. É por isso que «[…] mediunidade e Evangelho têm que andar juntos. É imprescindível que assim seja, pois o mundo está subvertido pelo materialismo, convulsionado pelo egoísmo, envenenado por teorias anticristãs. A humanidade continua sofrendo e seus sofrimentos irão ao desespero, se não se voltar para o Cristo.» (18)

Nas reuniões mediúnicas de atendimento a Espíritos necessitados de auxílio, usuais da Casa Espírita, manifestam Espíritos portadores dos mais diferentes tipos de problemas, alguns graves (suicidas, homicidas, obsessores etc.). Entretanto, a seriedade de propósitos permite que o trabalho transcorra em clima harmônico, apesar da evidente perturbação dos comunicantes, uma vez que os integrantes do grupo mediúnico estão sintonizados com o bem, com o espírito de solidariedade e de fraternidade. O médium psicofônico transmite o sofrimento, as carências e necessidades do Espírito, guardando, porém, o equilíbrio ao se exprimir, auxiliando o necessitado desencarnado com bondade e firmeza.


O médium, pois, que queira produzir em reuniões mediúnicas sérias deve estudar e melhorar-se moralmente, continuamente, segundo as seguintes elucidações do Espírito Emmanuel:

— «O médium tem obrigação de estudar muito, observar intensamente e trabalhar em todos os instantes pela sua própria iluminação. Somente desse modo poderá habilitar-se para o desempenho da tarefa que lhe foi confiada, cooperando eficazmente com os Espíritos sinceros e devotados ao bem e à verdade.» (21)

— « A primeira necessidade do médium é evangelizar-se a si mesmo antes de se entregar às grandes tarefas doutrinárias, pois, de outro modo poderá esbarrar sempre com o fantasma do personalismo, em detrimento de sua missão.» (20)


Em síntese, podemos dizer que são características das reuniões mediúnicas sérias:

  • Cogita de coisas úteis, são exclusivamente voltadas para a prática do bem, jamais são utilizadas para obtenção de fenômenos extraordinários, como passatempo ou diversão. (12)

  • Há um esforço coletivo, no grupo, de neutralizar as más influências e as imperfeições pessoais, sobretudo o orgulho e o egoísmo. (3), (11), (4) Os participantes procuram instruir-se e desenvolver sentimentos elevados, favoráveis à homogeneidade. (1), (4)

  • A equipe tem consciência da necessidade do estudo, a fim de que os Espíritos encontrem no cérebro do médium recursos que lhes facilitem a manifestação, ainda que estas tragam a forma e o colorido pessoal de cada medianeiro. (1), (20)

  • A reunião é privativa e sem número excessivo de participantes, onde é possível desenvolver um clima de recolhimento e comunhão de ideias. (16)

  • A reunião é «[…] um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, esse feixe tanto mais força terá, quanto mais homogêneo for.» (15)

  • Os médiuns não devem se sentir constrangidos com a análise das comunicações recebidas por seu intermédio. «Todo médium que sinceramente deseje não ser joguete da mentira, deve, portanto, procurar produzir em reuniões sérias […], aceitar agradecido, solicitar mesmo o exame crítico das comunicações que receba. Se estiver às voltas com Espíritos enganadores, esse é o meio mais seguro de se desembaraçar deles, provando-lhes que não o podem enganar.» (14)

  • «As tarefas mediúnicas pedem assiduidade, pontualidade, fidelidade a Jesus e Kardec.» (19)



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 78.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Segunda parte. Capítulo 19, item 225, p. 278.

2. Idem - Capítulo 20, item 226, pergunta 3ª, p. 295.

3. Idem, ibidem - Item 226, pergunta 11ª, p. 298.

4. Idem, ibidem - Item 227, p. 299.

5. Idem, ibidem - Capítulo 21, item 232, p. 306-307.

6. Idem, ibidem - Item 233, p. 307.

7. Idem, ibidem - p. 308.

8. Idem - Capítulo 29, item 324, p. 421.

9. Idem, ibidem - Item 325, p. 442.

10. Idem, ibidem - Item 326, p. 442-443.

11. Idem, ibidem - Item 327, p. 443.

12. Idem, ibidem - p. 443-444.

13. Idem, ibidem - Item 328, p. 444.

14. Idem, ibidem - Item 329, p. 446.

15. Idem, ibidem - Item 331, p. 447.

16. Idem, ibidem - Item 332, p. 448.

17. Idem - O que é o Espiritismo. 54. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 2 (Noções elementares de Espiritismo), item 5 : Observações preliminares, p. 169.

18. MENDES, Idalício. Rumos doutrinários. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo: Do médium e da mediunidade, item: Mediunidade — viga mestra do Espiritismo, p. 113.

19. PERALVA, Martins. Mediunidade e evolução. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Item: Evangelho, espiritismo e mediunidade, p. 17.

20. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Questão 387, p. 215.

21 Idem, ibidem - Questão 392, p. 218.


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