O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Reencontros — Familiares diversos


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Aviso surpreendente

Em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, nos idos de 1950, D. Genny Villas Boas Mercatelli conheceu Chico Xavier, quando integrava um grupo de confrades que trabalhava pela fundação de um hospital psiquiátrico espírita na cidade paulista de Araras, o qual se chamaria Sanatório Antônio Luiz Sayão.

Desde essa época nasceu uma grande amizade entre ambos, fortalecida pela admiração de seu esposo, Dr. Roberto Mercatelli, pelo médium mineiro. Com a mudança de Xavier para Uberaba, em 1958, o casal passou a visitá-lo assiduamente, encontrando sempre no dileto amigo palavras de orientação e incentivo para as suas múltiplas tarefas na seara espírita, especialmente no Sanatório, que passaram a dirigir desde a sua fundação, em 1957.

Certa ocasião, o casal Mercatelli foi procurado por um amigo da cidade de Leme, SP, que se encontrava enfermo e desejava receber orientação espiritual por intermédio de Chico Xavier, a quem não conhecia pessoalmente. Na impossibilidade de o Dr. Roberto ausentar-se, D. Genny e sua filha prontificaram-se a acompanhá-lo a Uberaba. A viagem foi programada para uma próxima segunda-feira, dia de semana em que, naquela época, Xavier também atendia em reunião pública. Assim foi feito, e no dia 3 de junho de 1968 lá estavam na Comunhão Espírita Cristã, acompanhados de outros confrades, aguardando a vez para falarem com o médium.

Naquela noite, D. Genny sentia-se muito feliz não só por prestar um auxílio fraterno, como também pela participação de uma “reunião do Chico”, que por motivos alheios à sua vontade não frequentava havia quase um ano. Mas uma grande surpresa a aguardava para os minutos seguintes. Aproximou-se do médium amigo e logo após os cumprimentos iniciais, sem que tivesse oportunidade de abordar qualquer questão doutrinária ou expor algum problema pessoal, Xavier lhe afirmou:

— Genny, você precisa voltar hoje mesmo porque sua mãezinha necessita de sua presença.

— Será possível, Chico? — ela respondeu, profundamente surpresa com a informação. — Realmente, mamãe tem estado adoentada. Porém, não tenho notícia recente do Paraná, onde ela se encontra, de que piorou, tanto é que, hoje cedo, saí de Araras despreocupada.

O médium, pacientemente, reafirmou:

— Vai, minha irmã, vai que a sua mãezinha está precisando muito de você. Aqui está um amigo dos companheiros de Araras, dizendo que os acompanhará na viagem de volta. É aquele senhor gordo, de rosto vermelho, que viajava com vocês nas campanhas pró construção do Sanatório… seu nome termina em ini… ini…

D. Altiva Noronha, residente em Uberaba, naquela noite acompanhava sua dileta amiga Genny àquela reunião doutrinária, e naquele momento entrou no diálogo, exclamando:

— Estou recebendo a intuição de que o nome é Bertolini.

— Esse mesmo — respondeu o médium. — E Augusto Bertolini.(Ver Cap. 3, nota 10)

Chico conheceu este confrade de Limeira, SP, em 7 de abril de 1950, quando, em companhia de sua esposa Alice, integrava um grupo de Araras que, numa viagem de jipe a Minas Gerais, chegou até Pedro Leopoldo. Nesta cidade, avistaram-se primeiramente na Fazenda Modelo, onde o médium trabalhava, e no mesmo dia, à noite, participaram de uma reunião doutrinária no Centro Espírita Luiz Gonzaga, quando Xavier psicografou uma bela mensagem assinada por Antônio, avô do Dr. Lauro Michielin (que integrava o grupo em companhia de sua futura esposa Dra. Aparecida Crepscki, e de D. Genny V. B. Mercatelli), incentivando o movimento pró construção do Sanatório. No dia seguinte, o grupo dirigiu-se a Belo Horizonte em companhia do médium, que o apresentou a vários espíritas e amigos daquela capital.

Assim, após um intervalo de dezoito anos, Chico reencontrou-se, naquela noite, com Augusto Bertolini, este já estando no Outro Lado da Vida, mais uma vez acompanhando seus confrades de Araras.

D. Genny, aturdida com o aviso inesperado, agradeceu e afastou-se, permitindo que o médium fosse mais claro para com os demais:

— A mãezinha dela já fez a passagem para o Plano Espiritual. Vocês devem voltar hoje mesmo.

A seguir, o confrade da cidade de Leme recebeu a orientação espiritual almejada e todos se despediram de Chico.

O grupo demorou-se ainda um pouco na Comunhão, aguardando a vez para receber passe magnético, permitindo que D. Geralda de Andrade Freitas, uma amiga do casal Mercatelli, residente em Uberaba, os alcançasse para comunicar a seguinte notícia telefônica vinda de Araras, transmitida há poucos minutos pelo Dr. Roberto Mercatelli: a mãe de D. Genny havia desencarnado às 16:30 horas, daquele dia, na cidade paranaense de Santo Antônio da Platina.

Estava confirmada a informação antecipada por via mediúnica.


A palavra de Sayão


Quando D. Genny retornou a Araras, após demorar-se uns dez dias no Paraná, em companhia de seus familiares consternados com o passamento de sua progenitora, encontrou em sua correspondência uma feliz surpresa: uma carta do Espírito de Antônio Luiz Sayão remetida de Uberaba.

Chico Xavier havia psicografado esta carta naquela reunião pública de 3 de junho de 1968 depois da despedida do grupo amigo de Araras, provavelmente noite alta. No dia seguinte, enviou-a à D. Genny, que recebia, sem nada ter pedido, a bênção de palavras confortadoras do patrono espiritual do Sanatório, ajudando-a a superar uma fase difícil, de problemas familiares e de obstáculos no campo do ideal maior.


“CONTINUEMOS COM JESUS”


1 Minha filha, Jesus nos abençoe!

2 Eis-nos na Seara do Amor Total, em nome do Guia Divino, tentando espalhar a clara luz da esperança na senda por onde seguem nossos pés.

3 Certamente lutas incessantes repontam macerando nossos corações e dificuldades nos assinalam as horas como convites vigorosos à oração e ao recolhimento.

4 Amores de ontem em roupagens estranhas nos chegam aos braços da ternura, convocando-nos a demorada vigília de apreensão, necessitados de nós… Verdugos gratuitos, ou adversários que se creem esbulhados nos seus interesses, ressurgem na sombra das nossas ansiedades, ameaçando-nos… No entanto, filha, acima de tudo Jesus vela e nos conduz. Sua Misericórdia não nos deixa e seu amor não nos esquece.

5 Continuemos animados e confiantes, embora chova granizo e o chão se adorne de urze ameaçadora; mesmo que experimentemos incompreensão no país da alma e que os nossos melhores planos pareçam prestes a ruir, continuemos com Jesus. Ele nos sustentará na amargura e nos enxugará o pranto no seio da noite. Ele nos sustentará.

6 Louvando-o, acompanhamos o abençoado labor do Sanatório e os planos para o Lar Ismael, rogando aos Céus muitas forças para o grupo de valorosos companheiros que em Araras plantam as sementes do Mundo Melhor para o futuro.

7 Amigos Espirituais abnegados continuam ajudando-os e inspirando-os e, apesar das dificuldades e das últimas mudanças inevitáveis, o programa do Senhor se encontra em plena e sadia execução.

8 Aumentemos, quanto possível, o concurso da assistência espiritual em nosso Sanatório. O Espiritismo é rota sublime e é claro sol de bênçãos. Tenhamo-lo presente em nossos compromissos, quanto nos permitam as ocasiões.

9 Asserene-se, filha, e ore. Ore com fervor, entregando-se à Mãe Santíssima. Nós outros, também, estamos orando por você, pelo nosso Roberto n e por todos os abnegados companheiros da nossa família espiritual.

10 Sua mamãe, n nosso Upton n e amigos outros fazem-me mensageiro do seu carinho a você e ao nosso Roberto.

11 Rogando ao Senhor abençoar-nos, sou o servidor de sempre,


Sayão n


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Nosso Roberto — Dr. Roberto Mercatelli presidiu o Sanatório Antônio Luiz Sayão, de Araras, SP, desde a sua fundação, em 1957, até os seus últimos dias terrenos. Desencarnou em 17/7/1979, aos 75 anos de idade (Ver nota 33 do cap. 3.)


2 — Sua mamãe — D. Alzira do Nascimento Villas Boas desencarnou em Santo Antônio da Platina, PR, com 76 anos de idade, em 3/6/1968, data do recebimento desta carta mediúnica.


3 — Upton — Foi o primeiro filho do casal Roberto — Genny Mercatelli, falecido com apenas 3 meses de idade, a 8/10/1929, em Santo Antônio da Platina. A partir de 1935, os seus pais, já residentes em Araras, passaram a receber suas mensagens, através de trabalhos mediúnicos de tiptologia (“mesas falantes”), no Centro Espírita João Batista. Nessa época, Upton já apresentava ideias amadurecidas, mostrando que seu Espírito voltou à condição de adulto em poucos anos de regresso ao Mundo Espiritual. Tanto o seu nome, como esses detalhes de sua vida eram totalmente desconhecidos do médium Xavier. Sabemos que após a desencarnação o corpo espiritual das crianças pode voltar à condição de adulto, que é a normal, exigindo para essa transformação plástica, maior ou menor tempo, dependendo do grau evolutivo da alma. Isto é, quanto maior o progresso moral e intelectual do Espírito, maior é o seu poder mental (plástico) sobre as células do próprio corpo espiritual. (Ver Evolução em Dois Mundos, médiuns Francisco C. Xavier e Waldo Vieira, Segunda Parte, cap. 4; e Entre a Terra e o Céu, médium F. C. Xavier, Caps. 9 a 11, ambos do Espírito de André Luiz, Ed. FEB.)


4 — Sayão — Dr. Antônio Luiz Sayão, dedicado pioneiro do Espiritismo no Brasil, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, aos 12 de abril de 1829. Em 1880, com reuniões iniciais em seu escritório de advocacia, fundou o Grupo dos Humildes, que mais tarde, com o nome de Grupo Ismael, foi incorporado à Federação Espírita Brasileira, dando novo alento e diretrizes seguras a esta instituição.

Dentre suas múltiplas atividades doutrinárias, dedicou-se à literatura, escrevendo dois livros: Trabalhos Espíritas de um pequeno grupo de crentes humildes e Elucidações Evangélicas à luz da Doutrina Espírita. Sayão regressou ao Mundo Maior a 31 de março de 1903, em sua própria terra natal. Pelo lápis de Chico Xavier, seu Espírito escreveu, em 1955, a importante “Mensagem de alerta”, que abre o livro Vozes do Grande Além (Espíritos Diversos, Ed. FEB). Grandes Espíritas do Brasil, de Zêus Wantuil, Ed. FEB, dedica a Sayão vinte e duas páginas biográficas.


Hércio Arantes


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