O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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Trabalho incessante

(Sumário)

1. Ao alvorecer, observei que Aniceto recebia numerosos amigos, com os quais se entendeu em particular. 2 Informou-nos o estimado orientador, por espírito de delicadeza, que trazia consigo incumbências várias, de acordo com as instruções de Telésforo, das quais era forçado a tratar em caráter privado, não nos ocultando, todavia, o objetivo essencial, que era, ao que disse, o combate ativo a uma grande cooperativa de desencarnados ignorantes, congregados para o mal.

3 Enquanto ele se mantinha em conversação íntima, ouvíamos, por nossa vez, outros amigos da faina espiritual.

O dia raiava, agora, com soberano esplendor. Tínhamos a impressão de que a chuva da noite varrera as sombras do firmamento.

4 Pelo número de trabalhadores espirituais que pernoitaram na casinha humilde, reconheci a importância daquele núcleo de serviço, tão apagado aos olhos do mundo.

5 Uma senhora, que se aproximara de nós, exclamava, comovida:

— Que o Senhor recompense a nossa irmã Isabel, concedendo-lhe forças para resistir às tentações do caminho. Por haver descansado neste pouso de amor, pude encontrar minha pobre filha, desviando-a do suicídio cruel. Graças à Providência Divina!

6 Incapaz de sofrear o desejo de aprender, perguntei, curioso:

— Mas como a encontrou, minha irmã?

— Em sonho, — respondeu a velhinha bondosa. — Minha Dalva ficou viúva há três anos, e, faz onze meses, deixei-a só, por haver também desencarnado. 7 A pobrezinha não tem resistido ao sofrimento quanto devera e deixou-se empolgar por entidades maléficas, que lhe tramam a ruína. Embalde me aproximo dela, durante o dia, mas, com a mente engolfada em negócios e complicações materiais, não me pôde sentir a influenciação. 8 Precisava encontrar-me com ela à noite, e isso não era fácil, porque não tenho bastante elevação espiritual para operar sozinha e o grupo em que sirvo não poderia demorar na Crosta uma noite inteira por minha causa. 9 Foi então que uma amiga me trouxe, bondosamente, a este posto de serviço de “Nosso Lar”. Aqui descansei e pude agir com os grupos de tarefa permanente, ajudada por infatigáveis operários do bem.

10 — E conseguiu seus fins com facilidade? indagou Vicente, interessado.

— Graças a Jesus! — Respondeu a senhora, evidenciando enorme satisfação, — agora sei que minha filha recebeu meus alvitres carinhosos de mãe e estou certa de que me atenderá as rogativas.

11 — Escute, minha amiga, — interroguei, — há muitos postos de “Nosso Lar”, como este?

— Ao que me informaram, há regular número deles, não somente aqui, mas também noutras cidades do país, além de numerosas oficinas que representam outras colônias espirituais, entre as criaturas corporificadas na Terra. 12 Nesses núcleos, há sempre possibilidades avançadas, imprescindíveis ao nosso abastecimento para a luta.


2. Nesse instante, dois camaradas que nos haviam dirigido a palavra durante a noite, despertando-nos sincera simpatia, apresentaram-nos saudações.

2 — Mas, como? — Perguntei, — retiram-se tão cedo?

— Vamos ao trabalho, — respondeu-me um deles; — hoje, à noite, realizar-se-á o estudo evangélico e devemos auxiliar os irmãos ignorantes e sofredores que estejam em condições de vir até aqui.

3 — Há também semelhante tarefa? — Indaguei, espantado.

— Como não, meu caro? O próprio Jesus já dizia, há muitos séculos, que a seara é grande. ( † ) Há trabalho para todos. E cumpre-nos reconhecer que esta oficina de assistência cristã funciona, há quase vinte anos, de maneira incessante.

4 — Vocês, no entanto, — interroguei, — permanecem aqui desde os primórdios da fundação?

O interlocutor esclareceu prontamente:

— Não. Muitos, como nós, fazem aqui estágios de serviço. Somente alguns cooperadores de Isidoro e Isabel aqui estacionam desde o início da instituição. 5 Nós outros, contudo, não nos demoramos em trabalho por mais de dois anos consecutivos. Um posto, como este, é sempre uma escola ativa e santa, e os que se encontrem no clima da boa vontade não devem perder ensejo de aprender.

6 — Desculpem-me tantas interrogativas, — tornei, — mas estimaria saber se vocês são os únicos com as atribuições de recrutar os que ignoram e sofrem, para a instrução e o consolo.

— Não. Hildegardo e eu somos auxiliares apenas de alguns quarteirões no centro urbano. Nesse ramo de socorro, os colaboradores são numerosos.


3. A essa altura, um dos irmãos, que me parecia integrar o corpo de orientação da casa, aproximou-se e falou ao nosso interlocutor, de maneira especial:

2 — Vieira, recomendo a você e ao Hildegardo a melhor observância do nosso critério doutrinário. Será inútil trazerem até aqui entidades vagabundas ou de má fé, obedecendo aos alvitres da simpatia pessoal. 3 Não podemos perder tempo com Espíritos escarninhos e ociosos, nem com aqueles que se aproximam de nossa tenda alimentando certas intenções de natureza inferior. Não faltarão providências de Jesus para essa gente, em outra parte. Lembrem-se disso.

4 Não é falta de caridade, é compreensão do dever. Temos um programa de trabalho muito sério, no capítulo da evangelização e do socorro, não podemos abusar da concessão de nossos maiores na Espiritualidade Superior. 5 Quem aceita um compromisso não vive sem contas. Por muito que vocês amem a alguma entidade ociosa ou irônica, não endossem os abusos dela. Ajudem-na de maneira individual, quando disponham de tempo e possibilidades para isso. 6 Não arrastem o grupo a dificuldades. Não se esqueçam de que existem determinados núcleos de tarefa para os surdos e cegos voluntários.

7 Vieira e o colega fizeram-se palidíssimos, não respondendo palavra.

Quando o orientador se afastou, sereno e ativo, Vieira explicou, desapontado:

— Recebemos uma admoestação justa.

8 E porque visse nosso desejo de aprender, prosseguiu, atencioso:

— Infelizmente, Hildegardo e eu temos alguns parentes desencarnados em dolorosas condições espirituais. Na reunião passada, trouxemos meu tio Hilário e o primo Carlos, embora soubéssemos que ambos não se encontram preparados para reflexões sérias, pelo desrespeito às leis divinas em que se movimentam, nos ambientes inferiores. 9 Manifestaram-se ambos, porém, tão desejosos de renovação, que ouvimos, acima de tudo, a simpatia pessoal, esquecendo a necessidade de preparação conveniente. 10 Vieram conosco, sentaram-se entre os ouvintes numerosos. Mas, em meio dos estudos evangélicos, tentaram assaltar as faculdades mediúnicas da irmã Isabel, para transmissão de uma mensagem de teor menos edificante. Sentindo-lhe a vigilância e surpreendidos pelos cooperadores desta santificada oficina, revoltaram-se, estabelecendo grande distúrbio. 11 Não fossem as barreiras magnéticas do serviço de guarda, teriam causado males muito sérios. Assim, a reunião foi menos frutuosa, pela grande perda de tempo. Ora, naturalmente, fomos responsabilizados…

— Meu Deus! — Exclamou Vicente, admirado, — quanta lição nova!

12 — Ah! Sim, meu amigo, — tornou Vieira, resignado, — aqui não devemos abusar tanto do amor, como no Círculo carnal! Ninguém está impedido de ajudar, querer bem, interceder; todos podemos auxiliar os que amamos, com os recursos que nos sejam próprios, mas a palavra “dever” tem aqui uma significação positiva para quem deseje caminhar sinceramente para Deus.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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