O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Notáveis reportagens com Chico Xavier reproduzidas do jornal O Globo — Autores diversos


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Emmanuel dá por finda a sua missão

Os Espíritos e a vida dos vivos — O futuro, sempre insondável — Vida, curto pesadelo

Evangelho de Jesus, para a salvação do mundo


PEDRO LEOPOLDO,  †  25 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Tivera, pois, resultado satisfatório a nossa tentativa de consultar Emmanuel num idioma desconhecido do médium. Este, com a sua simplicidade habitual, recolhera as respostas que ali estavam diante dos nossos olhos. Ocorre-nos a frase com que, atrás, resumíramos algumas impressões: “Quanto menos se creia, mais sensacional o caso se torna.

Realmente, a evidência é sensacional. O médium, conforme todos nos afirmam categoricamente, não sabe inglês [posteriormente teve que aprender]. As perguntas, entretanto, foram muito bem interpretadas e tiveram imediata resposta.

Sem elementos lógicos para uma contestação, limitar-nos-emos a expor aqui o que Emmanuel nos respondeu pela mão humilde de Chico Xavier.

Os Espíritos e o futuro dos seus amigos vivos

Em uma de nossas perguntas indagávamos:

Have you, spirits, any power upon the future of your living friends? (Tendes vós, os Espíritos, algum poder sobre o futuro dos vossos amigos vivos?)

Em sua resposta, Emmanuel, de início estranha a expressão “amigos vivos”. A seu ver o “vivos” é impróprio porque “todos nós estamos vivendo”. Há apenas, para essas vidas, Planos diferentes que, aliás, se interpenetram.

Depois, diz o “guia”:

“— Não creio que as personalidades desencarnadas tenham poderes sobre o futuro dos seus amigos que ainda se encontram na Terra. Essa atuação infirmaria o valor da iniciativa pessoal e encontraria os obstáculos do livre-arbítrio, lei reguladora da existência de cada indivíduo.

“Os Espíritos podem influenciar na vida daqueles aos quais se sentem ligados pela afeição fraterna, mas de uma forma indireta e sutilíssima.

“A presciência ainda não é atributo dos seres da minha Esfera. Conheço individualidades que, mesmo no Espaço, se entregam aos estudos atinentes ao porvir; porém, quero crer que jogam com as probabilidades que as circunstâncias, às vezes, vêm inutilizar.”

O pesadelo que passa rapidamente…

Passemos a outra pergunta:

Is life but an empty dream? (É a vida apenas um sonho vazio?) Ao salmista, de Longfellow  † , o Coração do Moço Rebelado observara:

“A vida é real!… e o túmulo não é o seu termo”. Assim, “no vasto campo de batalha do mundo, no bivaque da Vida, seja cada um, não a besta obtusa e submissa, mas o herói em luta”, no rumo do divino infinito.

A resposta de Emmanuel psicografada pelo médium foi esta:

— “A vida não é o sonho, conjunto de ideias quiméricas e fantasias ocas. É o sonho da perfeição, cheio das vibrações da eterna beleza.

“Na Terra, a existência é quase só a dos seres que se algemaram na cadeia das inquietações e dos desejos, os quais a transformaram num pesadelo de expectativas e ansiedades. Passa, porém, rápido esse mau sonho e, em reabrindo os olhos nos Planos espirituais, sente-se, o ser liberto, na posse dos inefáveis bens da Vida, se procurou triunfar na luta de suas imperfeições. Experimenta-se, então, envolvido em claridades consoladoras, e o seu coração é como um sacrário de amor eterno e de eterna esperança”.


O insatisfeito…


O repórter, porém, não está satisfeito. Ele fizera perguntas, talvez num mau inglês, mas, em todo caso, sempre em inglês.

As respostas podiam estar num bom português; mas eram sempre, em português… E ele gostaria de obter de Emmanuel pelo menos uma expressão em inglês.

Nada, porém, comunicamos ao médium dessa pequena margem de insatisfação que ficara ao lado do contentamento pelas respostas obtidas.

Lembramo-nos apenas de que ainda tínhamos, no bolso, uma longa pergunta. Renovaríamos a tentativa.

Não quisemos, porém, insistir ontem. Hoje à noite, sim, voltamos à casa de Chico Xavier.


Na melhor compreensão das “leis de ouro” está ainda a possibilidade de uma era mais feliz


Tudo, na modesta casinha do médium, está silencioso, como na véspera.

Apresentamos, então, a ele, a nossa terceira pergunta:

I should like to ask you something else. Many voices say we are living through dangerous days, the phantom of war ahead. What do you think about? Shall we have a best time, in the near future? What do you think about the possibility of a new world war?

(— Eu gostaria de perguntar-vos mais alguma cousa. Muitos dizem que nós estamos atravessando dias perigosos, com o fantasma da guerra pela frente. Que pensais a respeito? Teremos melhores tempos, num futuro próximo? Que pensais sobre a possibilidade de nova guerra mundial?)

O médium volta a sentar-se, para a concentração e o apelo ao “guia”, na mesma mesinha da outra vez. Ficamos junto à porta de comunicação e dali percebemos, dentro em pouco, o ruído do lápis. Ele está, porém, escrevendo muito depressa. Parece-nos que, ainda desta vez, a resposta vem em português.

Então, conforme mandam as práticas espíritas, fazemos, ao “guia”, um pedido mental, espécie de prece insistente, para que ele nos diga alguma cousa não em português.

Enquanto ansiosamente esperávamos o resultado do apelo, notamos que o lápis estaca após o bater de um ponto e num movimento rápido, como se traçasse uma assinatura.

Estará concluída a resposta? E o nosso “inglês”?

Não; a pausa é muito rápida. O lápis volta a escrever.

Devemos crer na eficiência de nosso pedido mental a Emmanuel?…

A essa, como a muitas outras perguntas, que nos têm ocorrido aqui, não saberíamos responder com a precisão de quem tudo entendesse…

O caso é que, na resposta às nossas indagações acima, o médium, ao pé de um trecho em português e assinado por Emmanuel, grafou umas dezoito linhas em inglês, também assinadas por seu “guia”.

Eis a íntegra dessa resposta:

“— Desejas perguntar-me mais alguma coisa… a Humanidade está vivendo dias bem amargurados… tudo representa para os homens, confusão e dor… atordoados, não se compreendem uns aos outros… O que eu penso? O futuro e suas possibilidades?… Vamos lutar conjuntamente, confiando na misericórdia da Providência Divina. Dize a todos que, para o porvir, toda felicidade coletiva depende da cristianização: não a luta pela implantação de determinadas ideias religiosas, mas a compreensão perfeita do Evangelho de Jesus, o qual ainda representa o conjunto das leis de ouro. Somente da sua assimilação poderá emergir no mundo o esplendor de uma nova era. — Emmanuel.

My good friend. I consider terminated this experience’s phases with himself. Even in benefit of investigation either science, I cannot sacrifice the heath our Francis. We think you have encountered enough elements to remove all supposition from fraud. [Meu bom amigo. Considero encerrada esta fase de experiência com ele. Mesmo em benefício da investigação ou ciência, não posso sacrificar a saúde de nosso Francisco. Achamos que você encontrou elementos suficientes para remover toda suposição de fraude.]

To give one’s self to truth is a beautiful work; notwithstanding, she has triumphed for herself. We judge to have a accomplished all our duties. Good bye. — Emmanuel”. [Dar a si mesmo à verdade é uma bela obra, não obstante, ela tem triunfado por si mesma. Julgamos ter cumprido todos os nossos deveres. Até logo. — Emmanuel.]

O inglês de Emmanuel poderá parecer, aos puristas desse idioma, um “inglês não muito bom”… Aliás, o próprio “guia” já confessou, em carta anterior não ser nenhum mestre nessa língua, o que é ainda agravado, na transmissão, pela deficiência do “aparelho”, isto é, o médium.

Em todo caso, foi satisfeito o nosso desejo de obter uma resposta “não em português”.

Ela aí está e julgamos poder traduzi-la assim:

— Meu bom amigo. Considero finda esta fase de experiência consigo. Mesmo no interesse da investigação ou da ciência, não posso sacrificar a saúde de nosso Francisco. Pensamos que tendes encontrado elementos suficientes para que seja afastada a suposição de fraude.

Dar-se alguém por si mesmo à verdade é bonito; não obstante ela tem triunfado por si mesma. Julgamos ter cumprido todos os nossos deveres. Adeus. — Emmanuel.

(O Globo, 04/06/1935)


Clementino de Alencar


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