O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Notáveis reportagens com Chico Xavier reproduzidas do jornal O Globo — Autores diversos


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No rumo das novas revelações

O “quebra-cabeças” do repórter — Será a vida apenas um sonho vazio? — Indagações de um átomo de um mundo atordoado.


PEDRO LEOPOLDO,  †  24 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Feito o relato da última sessão, prossigamos agora no rumo de fatos novos e de novas revelações.

Ao fim da nossa correspondência de ontem, à tarde, expusemos a intenção de um encontro, à noite, com o médium, em sua casa, e a boa vontade de Chico Xavier em nos atender.

Sucedeu, porém, que “seu” Zé Felizardo, adoentado, há já algum tempo, piorou um pouco, ontem, devido talvez, ao frio que tem feito aqui; e Chico Xavier não pode abandonar cedo, para nos atender, a casa do seu patrão e padrinho.

Ficou, pois, a entrevista transferida para hoje.

Ao fazermos tal solicitação tínhamos em mira o seguinte: obter, por intermédio de Chico, uma comunicação com Emmanuel, e então fazer a este algumas perguntas em inglês, idioma que o médium não conhece, absolutamente, segundo a afirmação categórica de pessoas idôneas que, no convívio tão natural das cidades pequenas, conhecem o rapaz desde quando era ele uma criança.


O “quebra-cabeças” do repórter…


Com sua intenção de levar o médium a novo teste, o repórter cai, por sua vez, numa espécie de “quebra-cabeças”…

Com todo o seu inglês teórico dos “preparatórios” e o prático do “Berlitz”, gasta o coitado, sem o auxílio de um dicionário, do “Little Londoner” e de um “amigo inglês”, boa parte da sua tarde na tarefa de elaborar uma série de perguntas das quais escolherá algumas para levar ao médium…

Arre! Que custo!… Inglês não é assim tão fácil…


Será a vida apenas um sonho vazio?…


A certa altura da nossa “intensa tarefa” ocorre-nos, felizmente, da lembrança de que lêramos algures, num “Salmo da Vida”, de Longfellow,  †  estes fragmentos da rebeldia de um coração moço contra a sombria arenga do salmista:


“Tell me not, in mournful numbers,

Life is but an empty dream!”

(…)

“Dust thou art, to dust returnest,

Was not spoken of the soul.”


Não me digas que a vida é apenas um sonho vazio…

Isto — “És pó e ao pó retomarás” — não se refere à alma…


Daqui, olhando a colina distante e ensolarada sob a tarde bonita que o céu de Pedro Leopoldo generosamente nos dá, todos os dias, sentimos também, com a palpitação tão ampla, tão “viva”, da vida, o ímpeto daquela rebeldia.

E elegemos a primeira pergunta ansiosa: — Is life but an empty dream? [A vida não é senão um sonho vazio?]


Podem os Espíritos influir sobre o futuro dos vivos?


Depois, ocorrem-nos outras inquietações, outras incógnitas que nos levam a grafar isto:

Have you, Spirits, any power upon the future of your living friends? [— Vocês tem, Espíritos, qualquer poder sobre o futuro de seus amigos vivos?]


Indagações de um átomo de um mundo atordoado


Por fim as nossas inquietações humanas se espraiam, confundem-se na palpitação coletiva dos nossos dias agitados, não raro, por sombrias ameaças.


E grafamos ainda para Emmanuel, o esclarecido Amigo do Espaço, ainda estas indagações:

— I should like to ask you something else: Many voices say we ate living through dangerous days, the phantom of war ahead.

What do you think about? Shall we have a best time, in the near future? What do you think about the possibility of a new world war?

(— Eu gostaria de perguntar-vos mais alguma cousa. Muitos dizem que nós estamos atravessando dias perigosos, com o fantasma da guerra pela frente. Que pensais a respeito? Teremos melhores tempos, num futuro próximo? Que pensais sobre a possibilidade de nova guerra mundial?)

Na casa do médium


Cerca das 21 horas estávamos diante do médium, em sua casa.

Tudo em silêncio. Suas irmãs tinham saído.

Palestramos um pouco.

Chico Xavier lê-nos algumas páginas psicografadas de 1934 para cá, entre as quais uma interessante comunicação de Berthelot.  † 

Depois, expomos o fito de nossa visita.

Com a simplicidade de costume, ele acede ao que pedimos. Apenas, não tem, no momento, um lápis sequer. Oferecemos-lhe o nosso. Entregamos-lhe as duas primeiras das perguntas acima. Passando sobre elas os olhos, rapidamente, ele, visto não haver mesa na sala, pede-nos licença e senta-se na mesinha da peça reservada às refeições da família, que é ao lado, e toda se expõe aos olhos do visitante que esteja na sala.

Em seguida, abrindo sobre a mesa as folhas que lhe déramos comunica-nos que se vai concentrar.

Quanto a nós, sentamo-nos junto à porta de comunicação, ponto de onde se vê a mesa, e, delicadamente, nos inclinamos sobre a mensagem de Berthelot que temos sobre os joelhos.

Instantes depois, ouvimos o ruído característico do lápis correndo sobre o papel.

E não tardou muito que Chico Xavier nos trouxesse as respostas.

(O Globo, 01/06/1935)


Clementino de Alencar


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