O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Irmã Vera Cruz — Mensagens familiares de Vera Cruz


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Tijolo a tijolo, a casa se levanta

1 Querida Milza, Deus nos abençoe.

2 Sei que você veio ao encontro de uma palavra sobre as tarefas que abraçou, em nome da beneficência, e quero dizer a você que estamos juntas sempre.

3 Às vezes, você tem sede de companhia para que o trabalho se desenvolva mais rápido, no entanto, peço a sua calma. Tijolo a tijolo, a casa se levanta. As sementes é que são as bases do jardim.

4 Não sofra se a solidão espiritual vem conversar com você. A solidão só é boa para pensarmos em Deus e no serviço que Deus nos concede. n

5 A obra começada está florescendo. Não receie. Muitos trabalhadores virão. n

6 Sempre que possível, relegue as discussões e as opiniões para segundo ou último lugar, e coloquemos a caridade na frente.

7 Uma pessoa em acessos de dor não entende o Evangelho, assim como a fome não deixava que os ouvintes do Senhor o compreendessem no monte. Jesus entendeu isso muito bem e mandou que pães fossem distribuídos. Atendido o estômago, o coração estaria em condições de prestar-lhe a atenção devida.

8 Trabalhemos, querida irmã, por minorar os sofrimentos alheios. As lições serão ditas depois. n

9 Lembre-se de que você já conseguiu acalmar a nossa querida mãe Ambrosina e pacificar as queridas irmãs Cida e Nilce.

10 Quanto ao Arnaldo, seria absurdo exigir de um homem tão moço qual está o companheiro que Deus me concedeu por marido, uma atitude incompatível com a natureza. Arnaldo é um homem e fez por mim quanto pode para me ver feliz. Agora, se procura distrair-se, isso é um direito dele que eu mesma estimaria defender se fosse necessário. Não devemos exigir de ninguém um comportamento impossível, n nas situações em que este comportamento se faz necessário.

11 Olhem por mim o nosso Maurinho. n Meu filho, sim, precisa muito do cuidado de todos. Acompanhei-lhe o tratamento difícil e contínuo, fazendo o que posso para vê-lo mais forte.

12 Milza, continue. Você e eu somos filhas espirituais das obras franciscanas. n Você fez também aquele meu voto de viver para servir.

13 Deus a recompense pelas alegrias que me proporciona, e sigamos para diante com o passo vagaroso mas seguro. Abençoe meu filho por mim, e rogue à mamãe não me esquecer nas orações.

14 A prece, em qualquer ocasião, é uma luz que nos beneficia.

15 O irmão Bertoni, n avô de nosso caro Arnaldo, está velando por ele. Confiemos em Deus.

16 Nossa irmã Olímpia está aqui comigo, e nós duas envolvemos você num só abraço. n

17 Fique tranquila e trabalhe sem pressa. Basta não parar com o bem e o bem caminhará por si mesmo. Primeiramente, escoramos o bem e, depois, querida irmã, é o bem que nos escora. n

18 Deus nos ampare sempre, e receba o coração reconhecido de sua irmã sempre agradecida,


Vera Cruz


FILHA ESPIRITUAL DAS OBRAS FRANCISCANAS


A quinta mensagem de Vera Cruz veio, exatamente, no dia 5 de novembro de 1977, confortadora quanto as demais de sua lavra, e ostentando as mesmas características de estilo, demonstrando-nos tratar-se, com efeito, de autêntica filha espiritual das obras franciscanas.


1 — “A solidão só é boa para pensarmos em Deus e no serviço que Deus nos concede.” — Para as pessoas que convivem bem consigo mesmas, isto é, que não fazem exigências descabidas a si mesmas, aceitando-se como são, sem qualquer dúvida, a solidão n costuma ser aproveitada para pensarem em Deus e no serviço que Deus nos concede.

Há quem chegue a nos sugerir, principalmente àqueles que estiverem na idade média da vida, n a descoberta de uma para-atividade — uma tarefa de ordem intelectual, o aperfeiçoamento em determinado setor diferente do nosso labor profissional —, a fim de que quando chegar a época da aposentadoria, possamos enfrentar com naturalidade os momentos de solidão que forçosamente hão de chegar.


2 — “Não receie. Muitos trabalhadores virão.” Para que possamos sentir o impacto desta curta e vigorosa afirmativa, percorramos as poucas mas densas páginas das Memórias de Amália Domingo Soler. n

A distinta poetisa do Espiritismo quando se sentia angustiada e procurava o médium Eudaldo para que por seu intermédio recebesse uma palavra de encorajamento dos Amigos da Vida Maior, costumava ouvir do Espírito do Padre Germano:

“— Amália, não te impacientes! Pensas que correndo se chega mais depressa e te equivocas, porque hás padecido deste defeito em muitas de tuas existências, e agora há chegado o momento de refrear os impulsos de teu espírito. Amália! Não hás terminado teu labor nesta existência; ainda tens que lutar e chorar muito, porque encontrarás em teu caminho muitos espinhos, todavia, vencerás, e como o peso dos anos já te acovarda, por isso venho eu a dar-te forças. Segue, segue, Amália, que ainda hás de perder o pouco que te sobra!”


3 — “As lições serão ditas depois.” — Afirmativa das mais sérias, que muitos espíritas negligenciam, alguns deles chegando a transformar o Centro Espírita em simples culto de estudo, em todas as sessões públicas, deixando de ler nem mesmo um só trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo, para se deterem em porfiadas e longas discussões em torno de itens de interesse puramente teórico. Que “as lições sejam ditas depois.” Antes, que surja o consolo para quantos busquem os recintos de nossas casas espíritas, através da palavra de Jesus, veiculada por Allan Kardec.


4 — “Não devemos exigir de ninguém um comportamento impossível, nas situações em que este comportamento se faz necessário.” — Recomendação das mais oportunas, não somente para as mães colocarem em prática em relação aos filhos, mas, e sobretudo, para os cônjuges se entreajudarem tanto quanto lhes seja possível.


5 — “Olhem por mim o nosso Maurinho.” Em carta de 9 de dezembro de 1975, que o jornalista Dr. Décio Estrêla, de São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, enviou à D. Milza, há esta passagem sobre Maurinho: “Irmã Milza, como já nos referimos, o Espírito que chegou ao lar da irmã Vera Cruz, vestido com um corpo por ela proporcionado, pertence a Deus como cada um de nós. Se o Pai cuida dos pássaros que voam pelos ares; cuida dos animais que vivem pelos campos; que provê os micróbios, dando-lhes as substâncias nutritivas ao desenvolvimento orgânico deles, como acreditar que o menino se ache órfão? (….) Ninguém é órfão da misericórdia do Pai de Amor e de Bondade.” Sobre os órfãos, consultemos o item 18 do Cap. XIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.


6 — “Milza, continue. Você e eu somos filhas espirituais das obras franciscanas. / Você fez também aquele meu voto de viver para servir.” — Quantos de nós, também, não fizemos semelhantes votos de “viver para servir”, o que significa viver para o combate permanente do egoísmo e do orgulho em nós mesmos, e prosseguimos agindo de forma até certo ponto irresponsável?


7 — Irmão Bertoni: Trata-se do avô do Sr. Arnaldo — Ângelo Bertoni, que nasceu em Piemonte, na Itália, a 27 de maio de 1854, e desencarnou em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, em dezembro de 1952, aos 98 anos de idade.


8 — “Nossa irmã Olímpia está aqui comigo, e nós duas envolvemos você num só abraço.” — Sobre D. Olímpia Sampaio Pires, eis o que nos escreveu D. Milza, em carta de 2 de novembro de 1978:

“Dona Olímpia foi a velhinha mais santa e bondosa que conheci na face da Terra. Viveu em Santa Lúcia, em companhia de um filho de criação chamado José, que tinha por ela grande carinho. Era como se fosse seu próprio filho. Agora que ambos estão do outro lado da vida, posso dizer-lhe que eram amigos inseparáveis, por causa do problema de ambos. Dona Olímpia não enxergava, e por isso dependia completamente da companhia dele. Por sua vez, ele que era um tanto retardado mentalmente, encontrava nela todo o apoio de que necessitava para viver, Por esse motivo, ambos não se separavam, sentindo-se amparados, cada qual a seu modo. José veio a falecer, vindo dona Olímpia residir em Valinhos, onde morou numa chacrinha que a fazia muito feliz, pela tranquilidade que gozava em companhia de pessoas amigas que a auxiliavam. Dona Olímpia também veio a falecer tempos depois, passando a dar mensagens por intermédio de minha irmã Vera Cruz, que muito a estimava.

Certo dia, meu marido me disse: Milza, eu só queria saber se minha mãe se encontrou com o José. Se encontrou, sei que estarão felizes.

No final da semana, quando fomos a São Paulo, onde Vera Cruz residia, fazer nossa visita costumeira aos nossos familiares, Vera me falou: Milza, tive um sonho que deve ser uma mensagem para o Hélio. Sonhei que dona Olímpia me levou a um hospital, e me disse que lá todas as pessoas ficavam curadas, até mesmo uma meninazinha que brincava no parque e que tivera a perna amputada, já estava brincando, completamente restabelecida.

Vera esteve muito tempo nesse hospital da Espiritualidade, conversando com dona Olímpia.

Quando Vera acordou, lembrou-se apenas do que dona Olímpia falara enquanto estavam sentadas em frente uma da outra, fora do corpo físico. De nada mais se lembrava.

A meu ver, foi uma grande prova de que dona Olímpia estava preparando minha irmã Vera para a sua próxima desencarnação, e que viria ampará-la, no momento oportuno. Isso foi uma grande oportunidade que o Plano Espiritual permitiu à dona Olímpia, deixando que Vera Cruz fosse levada até lá para dar notícias ao seu filho Hélio, que muito se preocupava com esse pensamento, receioso de que a senhora sua mãe e o irmão de criação estivessem separados, na vida verdadeira que é a espiritual.

Dona Olímpia foi a pessoa mais humilde e caridosa que conheci até hoje. Eu tinha por ela grande respeito e consideração.”


9 — “Primeiramente, escoramos o bem e, depois, querida irmã, é o bem que nos escora.” — Sendo o próprio Deus a caridade a derramar-se sobre todas as coisas e sobre todas as criaturas, aqueles que se apoiarem no bem, com efeito, estarão imersos na caridade e, por conseguinte, em absoluta comunhão com Deus no trato com o próximo.


“Mas, uma vez que eu estou aqui, numa assembleia onde se trata, antes de tudo, de estudos, eu vos direi que aqueles que estão privados da vista deveriam se considerar como os bem-aventurados da expiação. Lembrai-vos de que o Cristo disse que seria preciso arrancar vosso olho, se ele fosse mau, e que valeria mais que ele fosse lançado ao fogo do que ser causa de vossa perdição. Ah! quantos há sobre a vossa Terra, que maldirão um dia nas trevas terem visto a luz! Oh! sim, são felizes estes que, na expiação, são atingidos na vista: seu olho não será motivo de escândalo e de queda, podem viver inteiramente a vida das almas; podem ver mais que vós que vedes claro…” — Cap. VIII, 20.


“No recolhimento e na solidão, estais com Deus; para vós não mais mistérios, eles se vos revelam.” — Cap. XXVII, 23.


Elias Barbosa



[47] Para Melanie Klein (O Sentimento de Solidão — Nosso Mundo Adulto e Outros Ensaios, Tradução, Prefácio e Notas de Paulo Dias Corrêa, Imago Editora Ltda., Rio, 1971, pp. 133-156), o estado de solidão resulta do anseio onipresente de um estado interno perfeito inatingível, chegando por concluir: “Quanto mais rígido o superego, maior o sentimento de solidão, porque suas rigorosas exigências aumentam as ansiedades depressivas e paranóides.”


[48] Theodor Bern Spoerri, Compêndio de Psiquiatria, Trad. de Samuel Penna A. Reis, Livraria Atheneu S/A, Rio-São Paulo, 2ª edição, 1974, pp. 32-33; 8ª edição revista e ampliada, 1979, pp. 60-61.


[49] Amália Domingo Soler, Memorias de la Insigne Poetisa del Espiritismo, Editorial Victor Hugo, Buenos Aires, 1966, p. 75.


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