O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Emmanuel — O próprio


DOUTRINANDO A FÉ


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A confissão auricular

(Sumário)

1. Interpelado, há dias, a respeito da confissão auricular, nada mais pude fazer que dar uma resposta resumida, de momento, adiando o instante de expender outras considerações atinentes ao assunto.

Padre católico que fui, na minha última romagem terrena, sinto-me à vontade para falar com imparcialidade sincera.

Não será a minha palavra que vá condenar quaisquer religiões, todas elas nascidas de uma inspiração superior que os homens viciaram, acomodando as determinações de ordem divina aos seus próprios interesses e conveniências, desvirtuando-lhes os sagrados princípios.

Todas as doutrinas religiosas têm a sua razão de ser no seio das coletividades, onde foram chamadas a desempenhar a missão de paz e de concórdia humana. Todos os seus males provêm justamente dos abusos do homem, em as amoldando ao abismo de suas materialidades habituais; e, de fato, constitui um desses abusos a instituição da confissão auricular, pela igreja católica.


A confissão nos tempos apostólicos


2. Se é verdade que, na época do Precursor, os novos crentes adotavam o sistema de confessar publicamente as suas faltas e os seus erros, tal costume diferia essencialmente de tudo quanto criou a igreja católica, nesse particular, depois da partida, para o Além, dos elevados Espíritos que lançaram, com o sangue dos seus sacrifícios e com a mais sublime renúncia dos bens terrenos, as bases da fé que tem resistido ao bolor dos séculos. A confissão pública dos próprios defeitos, nos tempos apostólicos, constituía para o homem uma forte barreira, evitando a sua reincidência na falta. Um sentimento profundo de verdadeira humildade movia o coração nesses momentos, oferecendo-lhe as melhores possibilidades de resistência ao assédio das tentações, e semelhante princípio representava como que uma vacina contra as úlceras do remorso e das chagas morais.

Todavia, os tempos decorreram e, no seu transcurso, observou-se a transformação radical de todas as leis sublimes de fraternidade cristã, anteriormente preconizadas.


A confissão auricular e a sua grande vítima


3. A confissão auricular constitui uma aberração, dentro do amontoado das doutrinas desvirtuadas do romanismo. E é justamente a mulher, pelo espírito sensível de religiosidade que a caracteriza, a maior vítima do confessionário.

Infelizmente, toda a série de absurdos do inqualificável sacramento da penitência é oriunda dos superiores eclesiásticos, dos teólogos e falsos moralistas da igreja que, perversamente, criaram os longos e indiscretos interrogatórios, aos quais terá a mulher de submeter-se passivamente, diante de um homem solteiro, estranho, que ela, inúmeras vezes, nem conhece.

Os padres, geralmente, em virtude do seu desconhecimento dos sagrados deveres da paternidade, não a vão interpelar no tocante às obrigações austeras do governo da casa; ferem exatamente os problemas mais íntimos e mais delicados da vida do casal, violando o sagrado respeito das questões do lar, dando pasto aos pensamentos mais injustificáveis e, às vezes, repugnantes. E o véu de modéstia e de beleza que Deus concedeu à mulher, para que ela pudesse mergulhar, como um lírio de espiritualidade, nos pântanos deste mundo, é arrancado justamente por esse homem que se inculca ministro das luzes celestes. Muitas vezes, é no confessionário que começa o calvário social da mulher. Dolorosos e pesados tributos são cobrados das católicas-romanas, que, confiadas em Deus, lançam-se aos pés de um homem cheio das mesmas fraquezas dos outros mortais, na enganosa suposição de que o sacerdote é a imagem da Divindade do Senhor.


Reforma necessária


4. Não podeis calcular a imensidade de crimes, perpetrados à sombra dos confessionários penumbrosos, onde almas aflitas e fervorosas buscam consolação e conforto espiritual.

O que se faz necessário em vossos dias é a reforma de semelhantes costumes. Quando essa renovação não parta das autoridades eclesiásticas, que ela possa nascer dos esforços conjugados de todos os esposos e de todos os pais, substituindo eles os confessores junto de suas esposas e de suas filhas.

Muitas vezes, quando procurado por consciências polutas, que me vinham fazer o triste relato de suas existências repletas de deslizes, eu nunca me senti com autoridade bastante para ouvi-las.


Confessai-vos uns aos outros ( † )


5. Todo o espírito do Evangelho, legado pelo Mestre à humanidade sofredora, foi deturpado pelo homem, dentro dos seus interesses mesquinhos e das suas ideias de antropomorfismo. Por isso, nós, que já trazemos o coração trabalhado nas mais penosas experiências, podemos declarar, diante da nossa consciência e diante de Deus que nos ouve, que nenhum bem pode prodigalizar a confissão auricular ao Espírito, sendo um costume eminentemente nocivo, com os seus característicos de depravação moral, merecendo, portanto, toda a atenção da sociologia moderna.

Confessai-vos uns aos outros, buscando de preferência aqueles a quem ofendestes e, quando a vossa imperfeição não vo-lo permita, procurai ouvir a voz de Deus, na voz da vossa própria consciência.


Emmanuel



Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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