O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Chico Xavier — Mandato de amor — Autores diversos


Conclusão


O servidor incansável

“O bem que praticares, em algum lugar, é teu advogado em toda parte.”

“Todas as nossas figurações mentais, o conjunto de nossas lembranças, as nossas alegrias íntimas e os nossos ressentimentos, as nossas dores, as nossas aspirações, elas formam o conjunto do clima em que a nossa desencarnação se verificará.” Chico Xavier


Ecoa nas tradições da Lei, a imperativa orientação divina dirigida a Adão: — “Em fadigas, obterás da terra o sustento durante os dias de tua vida. No suor do rosto, comerás o teu pão.” — Gen. 3,17 e 19.

Decorridos dezenas de séculos, contemplamos o ser humano a jornadear pelas paisagens terrenas, ainda encarcerado em si mesmo por não ter cumprido completamente a orientação celeste a respeito de seu aperfeiçoamento, junto aos deveres de cada dia. Raros são os que cumprem as próprias obrigações. Muito poucos situam-se além da própria esfera de necessidade ou utilidade.

Foi por esta razão que destacamos a figura deste humilde funcionário público, aposentado como escriturário do quadro permanente do Ministério da Agricultura aos 17 de janeiro de 1961. Com reverência, recorremos à certidão de número 21 da Delegacia Federal de Agricultura de Minas Gerais, de 24 de dezembro de 1960, que diz textualmente acerca do servidor de nome Francisco de Paula Cândido: “Durante o período de 01/08/1935 até 24/12/1960, o referido servidor não gozou licença especial, nem justificada. (…) O total de tempo de serviço constante da presente certidão é de 9.278 dias, ou seja, 25 anos.”

Nenhuma falta ao trabalho, nada de licenças e suspensões! Este dado, por si só, impressiona, sobremaneira, a todos nós, impulsionando-nos a conhecer, na realidade, este homem diferente.

Outros detalhes, ele mesmo nos conta a seu respeito:

— “Pude chegar até o fim do curso primário, estudando apenas uma pequena parte do dia e trabalhando numa fábrica de tecidos, das quinze às duas horas da manhã. Essa situação modificou-se em 1923, quando, então, consegui um emprego no comércio, com um salário diminuto, onde o serviço durava das sete às vinte horas, mas onde o trabalho era menos rude. (…) Não pude aprender senão alguns rudimentos de Aritmética, História e vernáculo. (…) O meu ambiente, pois, foi sempre alheio à literatura. Ambiente de pobreza, de desconforto, de penosos deveres, sobrecarregado de trabalhos para angariar o pão cotidiano, onde não se podia pensar em letras. Sobre (…) fatos e (…) provas irrefutáveis, solidificamos a nossa fé (espírita), que se tornou inabalável. (…) Resolvemos, então, com ingentes sacrifícios, reunir um núcleo de crentes para estudo e difusão da Doutrina, e foi nessas reuniões que me desenvolvi como médium escrevente (…) sentindo-me muito feliz por se me apresentar a oportunidade de progredir.” (Excertos da página “Palavras minhas”, constituidora da obra “Parnaso de Além Túmulo”, Francisco Cândido Xavier, 10ª edição da F. E. B. — Federação Espírita Brasileira.)


Semelhante relato fala sozinho, dispensando comentários. Entretanto, ele é apenas uma face da personalidade de um homem que, antes de dar a Deus o que é de Deus, soube dar a César o que é de César.

Francisco de Paula Cândido, mais conhecido como Francisco Cândido Xavier, criado num ambiente onde não se pensava em letras, completou no último dia 8 de julho nada menos que 65 anos de atividades mediúnicas, ininterruptas, a serviço de Jesus e Kardec.

São 368 livros publicados sob a égide da Boa Nova e o patrocínio do Consolador prometido pelo Cristo de Deus. Francisco de Paula Cândido: o escrevente datilógrafo, dando a César o que é de César.

Francisco Cândido Xavier: o médium escrevente ou psicógrafo, dando a Deus o que é de Deus.

Simplesmente Chico Xavier, a alma sincera e leal, que acima de tudo ama a verdade. Profundamente ama a verdade, porque as desilusões deste mundo fizeram-no conhecê-la através de incomensuráveis sacrifícios, constantes renúncias, árduas tarefas e obrigações fielmente cumpridas.

“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” – Jo. 8, 32.

Chico Xavier, uma vida de verdade, plena de verdade. Um livro aberto de testemunhos santificantes.

Sua obra é um trabalho verdadeiramente livre, pois sabemos que para o Senhor não há trabalho vão (1 Co. 15, 58), e onde está o espírito do Senhor, aí há liberdade (2 Co. 3, 17). Um trabalho livre, porque é o esforço mais intenso que pode haver para um ser humano — o de sua transformação moral pelos padrões evangélicos.

Um trabalho universal, porque estruturado no bem dos semelhantes. Esforço desse homem-símbolo, não como força natural intencionalmente treinada, mas como sujeito através do qual verte o amor puro das esferas mais altas para o alívio das almas em aflição bem-aventurada.

Chico Xavier, um homem simples.

Chico Xavier, o homem-símbolo desse trabalho livre, que nos descortina uma fase única de liberdade a garantir o pleno desenvolvimento das capacidades espirituais latentes no homem atual.

Parafraseando conhecido filósofo alemão do último século, este reino da liberdade começa onde o trabalho deixa de ser determinado por necessidade e por utilidade exteriormente impostos; por natureza, situa-se além da esfera material propriamente dita. Nele começa o pleno desenvolvimento das forças humanas como um fim em si mesmo, o reino genuíno da liberdade, o qual só pode florescer, tendo por base o amor.

Foi deste amor que tratamos, de uma vida repleta de amor, inspirada no Caminho da Verdade e da Vida, baseada no “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” de Nosso Senhor Jesus. (Jo. 13, 34 e 35).

Falamos do ser humano extraordinário que, por tanto exemplificar o amor a nós outros em humanidade, é reconhecido pelo mundo como um discípulo do Mestre Nazareno.

Passados quase 83 janeiros de sua abençoada existência, ousamos auscultar o seu coração por todos nós querido e adivinhamo-lo a murmurar baixinho, com Paulo de Tarso (1 Co. 15,10): “Pela graça de Deus, sou o que sou, e a Sua graça que me foi concedida não se tornou vã; antes trabalhei muito, todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.”

Permita Deus possamos, por muitos anos ainda, desfrutar da presença amiga deste servidor incansável: Chico Xavier.


Geraldo Lemos Neto


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