O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Conversa firme — Cornélio Pires


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Vivos e mortos

  1 Você meu caro Antonino,

  Pergunta com seus cuidados

  Por que se faz tão difícil

  Ouvir os mortos amados.


  2 E acentua: — “Sempre tive

  Muitos amigos no Além

  Entretanto, peço, peço…

  Chamo e não vejo ninguém.


  3 “Que dizer Cornélio amigo,

  Desta busca inacabada?

  Faço preces, grito nomes,

  Depois… é silêncio e nada…”


  4 Entendo prezado amigo,

  Toda a sua inquietação,

  Mas ouça: somos quais somos

  E as cousas são como são!…


  5 Tudo espera tempo próprio

  Onde o melhor se processa…

  A verdade surge aos poucos

  Sem ocupar-se da pressa.


  6 Atendendo à luta humana,

  Que dá tanto que pensar

  O homem, ao pé da morte,

  Raciocina devagar.


  7 Por outro lado, as ideias,

  Que a Terra criou no caso,

  Nas portas do grande assunto

  Despejou montões de atraso.


  8 No mundo, lembra-se a morte,

  E temos pessoas pasmas,

  Falando em luto, agonia,

  Cinzas, pedras e fantasmas!…


  9 Isso cria tanto entrave,

  Tanta sombra e tanta trica,

  Que os vivos do Além não acham

  A ligação com quem fica.


  10 Basta que um morto qualquer

  Dê sinal ou reapareça

  E alongam-se fantasias

  Tisnando muita cabeça.


  11 Recorde: Joana, a viúva

  Do Marciano Toledo

  Chamava o esposo e ele vindo

  A moça tombou de medo.


  12 Tonho quis ver o irmão morto

  E ao tê-lo junto de si,

  Gritou e caiu de susto

  Na estrada de Mandaqui.


  13 Desejou ver o pai morto

  O nosso amigo Aristeu,

  Um dia, o rapaz, ao vê-lo,

  Desmaiou e adoeceu.


  14 Após a morte do tio

  Totó buscava encontrá-lo,

  Notando o tio na roca

  Totó caiu do cavalo.


  15 Marina chamava o esposo,

  O falecido Teotônio,

  Vendo o marido, a mulher

  Dizia que era o demônio.


  16 Júlia pedia ao marido

  Auxílio num grande apuro,

  O finado apareceu

  Ela rezou no esconjuro.


  17 Sabino encontrou em prece

  Um irmão já desencarnado,

  Gritou, chorou… Depois disse

  Que estivera alucinado.


  18 Perdeu Silvino a mulher…

  Quis vê-la, a Dona Ceição,

  Tendo a esposa junto dele

  Clamou que era assombração.


  19 Zelão contou haver visto

  A noiva desencarnada…

  Chorou, mas disse, em seguida,

  Que era tudo patacoada.


  20 Chamava o esposo, a Cecília,

  Mulher do Janjão Salerno,

  Vendo o finado, a viúva

  Mandou Janjão para o inferno.


  21 Doca chamava o pai morto

  Em frases de imenso amor…

  Quando o pai voltou a ela,

  Falou que era obsessor.


  22 Ante os problemas da morte

  São muitos tropeços juntos,

  E a verdade pede ao tempo

  Que lhe prepare os assuntos…


  23 Não se agaste, caro irmão,

  O mundo é um contraste em si:

  Os vivos buscando os mortos

  E os mortos andando aí!…


Cornélio Pires


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