O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho — Humberto de Campos


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A Regência e o Segundo Reinado

1 Ninguém, no Brasil, poderia supor que D. Pedro I  †  abandonasse o país precipitadamente, como fizera a 7 de abril de 1831. As forças conservadoras desejavam somente que ele regenerasse o seu ambiente, afastando-se de determinadas influências políticas. E o resultado da inesperada abdicação foi a desordem que se propagou a todos os recantos, provocando descontentamentos e sedições.

2 Alguns políticos, no entanto, obedecendo a uma feliz inspiração do Mundo Invisível, organizaram uma regência que se incumbiu de manter a intangibilidade da ordem e das instituições.

Essa regência interina, com imensos sacrifícios, iniciou o seu trabalho de pacificação na Bahia, em Minas e em Pernambuco, onde inúmeros portugueses eram assassinados sob o pretexto de antigas desforras dos movimentos nativistas. Os distúrbios militares proliferavam em toda parte, exigindo a mais alta cota de sacrifícios e dedicações dos verdadeiros patriotas.

3 O exército, desde os acontecimentos de 7 de abril, caracterizava as suas atitudes pela revolta e pela indisciplina. O norte do país vivia sob o regime do sangue e da morte. O povo de Pernambuco, humilhado pelas incursões da soldadesca amotinada, que lhe feriam os brios e as tradições, veio a campo, travando-se os mais fortes combates, em que pereceram, ou foram presos, numerosas centenas de indisciplinados. Esses protestos e esses exemplos, todavia, não conseguiram eliminar a luta persistente e pavorosa. A guerra civil continuou, anos a fio, à sombra das matas, estendendo-se ao Pará com o seu rastilho de miséria e de sangue. Muitos governadores foram barbaramente trucidados pela caravana sinistra da confusão e da desordem. 4 Jamais, a pátria do Evangelho atravessara tão perigosa situação, sob o ponto de vista social e político. O partidarismo envenenava todos os ambientes com a vasa de suas paixões desenfreadas e, não fossem os mananciais do pensamento e da economia, fixados por Ismael nas regiões do Rio de Janeiro, de São Paulo e Minas, que asseguraram a própria estabilidade nacional, talvez não pudesse o Brasil resistir ao elemento embrutecedor, que eliminaria para sempre a sua unidade territorial.

5 Depois de quatro anos de experimentações e lutas incessantes, a Regência é entregue a um dos homens mais enérgicos e prudentes da época, o eclesiástico Diogo Antônio Feijó,  †  que iniciou a sua obra de honestidade e de civismo, sob a direção das falanges esclarecidas do Infinito. O grande paulista, porém, não conseguiu permanecer muito tempo à frente do governo. Em 1835 rebentava o movimento republicano do Rio Grande do Sul, chefiado por Bento Gonçalves,  †  que se propunha organizar, na província referida, uma república separada do país. Esse movimento separatista iria consumir grande coeficiente das energias nacionais, porquanto, só seria terminado mais tarde sob a ação pacificadora do Segundo Reinado.

6 Em 1836, funda-se o partido conservador, com a aliança dos liberais e dos restauradores, caminhando a nação para o parlamentarismo, e Feijó não se resignou com as providências levadas a efeito. A seu ver, não era possível governar eficientemente, dentro de um regime que se lhe afigurava de excessiva liberdade. Renunciou nobremente ao cargo, chamando ao poder Araújo Lima,  †  que era nesse tempo, a autoridade suprema das forças oposicionistas.

7 Nessa época, já a imprensa brasileira não contava mais com a palavra de concórdia e de conciliação de Evaristo da Veiga,  †  que, depois de cumprir sua tarefa no país do Cruzeiro, havia regressado à Pátria Universal, incorporando-se às hostes esclarecidas do Infinito. A imprensa, hoje considerada como o sexto sentido dos povos e que, naqueles tempos mal ensaiava os seus primeiros passos no Brasil, não podia, portanto, representar o órgão de esclarecimento geral da nação e a luta prosseguiu, ensanguentando o país, ao longo de todas as suas fronteiras.

8 A fusão dos objetivos de liberais e conservadores constituiu a base da opinião livre, que embelezou o regime parlamentar no Segundo Reinado, estruturando-se a Câmara sob o modelo das praxes e costumes ingleses.

Percebendo, contudo, a exaltação do espírito geral, os liberais solicitaram, em 1840, a declaração de maioridade do Imperador, que, na época, contava os seus quinze anos. Semelhante acontecimento representava um golpe nos dispositivos constitucionais, mas todos os políticos reconheciam no jovem imperante a mais elevada madureza de raciocínio e as qualidades que lhe exornavam o caráter. Uma comissão de homens influentes procura-o no paço imperial, obtendo o seu imediato assentimento.

9 Dentro de poucos dias, foi D. Pedro II  †  aclamado, com as melhores esperanças do país e sob a confiança dos mentores do Alto, os quais, seguiriam de perto a sua trajetória no trono.

A Regência ficava localizada no tempo, como uma das mais belas escolas de honradez e de energia do povo brasileiro. Vivendo na atmosfera de franca antipatia popular, pelas medidas de repressão que lhe cumpria executar; flutuando como um instrumento de conciliação entre as marés bravias do separatismo no sul, os vagalhões impetuosos da opinião partidária nas cidades centrais, e as ondas tumultuárias das lutas ao norte, todos aqueles que passaram pela Regência foram compelidos aos mais elevados atos de renúncia pelo bem coletivo, praticando com isso verdadeiro heroísmo, a fim de que se conservasse intacto, para as gerações do futuro, o patrimônio territorial e a escola das instituições, na objetivação luminosa da civilização do Evangelho, sob a luz suave do Cruzeiro.

10 Nesse mesmo ano de 1840, foi coroado o jovem imperador.

Não obstante a sua posição de adolescente, D. Pedro II assistido pelas numerosas legiões do bem, que o rodeavam no Plano Invisível, tomava o cetro e a coroa, consciente da responsabilidade gravíssima que lhe pesava sobre os ombros.

11 A sua primeira preocupação administrativa foi pacificar o ambiente intoxicado de sedições e rebeldias. Prestigiando Caxias,  †  consegue levantar a bandeira branca da paz nas províncias de São Paulo e Minas, após os desfechos de Venda Grande  †  e de Santa Luzia.  †  Daí a algum tempo, com a sua política de moderação e tolerância, consegue estabelecer a tranquilidade geral em todo o Rio Grande do Sul, com a anistia plena e com o respeito às honras militares de todos os chefes da insurreição.

12 Depois dos esgotamentos a que todo o país é conduzido pela ação corrosiva dos processos revolucionários, o Brasil ia regenerar suas forças orgânicas dentro de um largo período de paz, no qual as falanges esclarecidas de Ismael inspirando a generosa autoridade do Imperador, iam argamassar as bases do pensamento republicano, sobre as ideias de fraternidade e liberdade, a caminho das grandes realizações do porvir.


Humberto de Campos

(Irmão X)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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