O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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A terra e o semeador — Emmanuel


12 n

Encontro com Marilyn Monroe

(Sumário)

Depois de atender, na Cava do Bosque, cerca de 3.000 pessoas, anteontem Chico Xavier concedeu entrevista ao “Diário”. Respondeu sobre os seguintes assuntos: o título de cidadão cravinhense, o número total de seus livros, a sua visão de Marilyn Monroe, suas relações com a crítica literária, a teoria da reencarnação dos suicidas, o comportamento das “testemunhas de Jeová” sobre a transfusão de sangue, e a ideia de uma “religião brasileira” feita com união do Catolicismo, o Espiritismo, a Umbanda e o Candomblé.

Ao final, Xavier dirigiu uma saudação a Ribeirão Preto: — “Sou cidadão ribeirãopretano com muito orgulho, e, na verdade, me sinto em casa estando aqui, onde vivem companheiros espíritas e pessoas que me cumulam com o carinho que eu não mereço. Através do jornal deste grande amigo, e grande homem, Dr. Marcelino Romano Machado, eu saúdo a todos os ribeirãopretanos.”


126 — EM CRAVINHOS, AGORA NO PRÓXIMO ANO

P: — Quando o Sr. vai arranjar tempo para receber o título de “Cidadão Cravinhense” e quantos títulos de cidadania já recebeu?

  R: — “Tive conhecimento de que Cravinhos me outorgou o título de Cidadão, e estou mantendo entendimentos com pessoas de lá para marcarmos uma data, no próximo ano. Títulos como esse, são títulos que pertencem à Doutrina Espírita. Eu sou apenas um “cabide” que vai lá para receber a honraria e entregar aos companheiros espíritas, que são os legítimos merecedores desse título. Não tenho nenhum mérito nisso, trata-se de um dever para com a comunidade espírita de cada cidade que tem se lembrado de nós. Que se lembra da Doutrina Espírita e não de mim. Quantos títulos? Uns dez.”


127 — NÃO SABE O TOTAL DE SEUS LIVROS

P: — Qual o total de livros até agora psicografados e vendidos pelo senhor?

  R: — Não tenho uma estatística do total vendido, porém as editoras que recebem as doações têm documentos nesse sentido, que podem ser consultados, principalmente na Livraria Boa Nova, na rua Aurora, em São Paulo. Eu, pessoalmente, não tenho ideia, porque o livro sai de nossas mãos como um documentário. Eu apenas assino a doação dos direitos autorais que me possam caber.”


128 — SOU A PEDRA, NÃO A CORRENTE

P: — Por que a crítica literária não comenta seus livros com regularidade?

  R: — “Na realidade, eu não posso saber. Desde 1927 eu me habituei a ver os Espíritos e tomei tamanho interesse afetivo pelo trabalho que eles desenvolvem, que não posso acompanhar o movimento da crítica literária. Sei que grandes amigos meus, materialistas, em conversação conosco, sempre nos tratam com muito respeito, o que pessoalmente agradeço muito. Nesse sentido, há tempos, um grande repórter de nosso movimento de informação, perguntou-me se eu tinha consciência do movimento que os livros e as ideias que eles divulgam acarretam. Peço licença para dizer que eu me sinto na condição de uma pedra, diante da qual nasceu uma fonte. Eu sou a pedra, e tenho consciência disso. Mas desde o momento que a água da fonte sai aos jorros, eu não sei que correntes se estão formando depois. Eu digo isso de coração.”


129 — MARILYN SOB UMA ÁRVORE NO CEMITÉRIO

P: — Certa vez o Sr. informou que tinha recebido comunicação do espírito de Marilyn Monroe, sobre as condições de sua morte. Agora, após a publicação de sua biografia por Norman Mailler, o Sr. voltou a falar com Marilyn? Ela gostou do livro? O Sr. gostou?

  R: — “Não li o livro, mas sempre leio, através dos jornais, as notícias. Sobre o contato com Marilyn a história é a seguinte: tendo ido à América do Norte, em companhia de amigos, em 1966, visitamos um cemitério, onde estava a memória de pessoas ligadas a algumas que estavam conosco. Com grande surpresa, então, ouvi a notícia de que naquele cemitério estavam as cinzas de Marilyn. Naturalmente, eu me comovi muito, Fiz uma prece no seu túmulo. Assisti dois filmes de Marilyn, de que não me lembro o nome, mas sempre a admirei muito. Era uma artista de grande beleza e de grande influência no mundo. Naquele cemitério existe uma árvore muito grande. Nela vi diversas entidades e vi Marilyn. Ela estava repousando com a cabeça no colo de uma senhora, Não posso dizer que estava vendo uma realidade ao ponto de vista que eu interpretei, ou se, pela prece, o meu pensamento se tivesse ligado a regiões distantes, onde talvez, o pensamento dela recebesse a nossa mensagem.”

Continua Chico:

“Vi muitos vultos naquela árvore, porém me detive na personalidade dela. Vi também o Espírito de Humberto de Campos de longe, aproximando-se dela para conversar. Depois ele passou por mim e me deu a entrevista que ele tinha realizado com ela. Um amigo que lá estava me disse que a senhora, no colo em que estava Marilyn, era uma ex-atriz que também desencarnara, vítima de câncer antes da morte de Marilyn. De modos que Humberto de Campos me deu essa mensagem e ela consta de um livro. Eu perguntei também, a Humberto, se ela tinha algum ponto, essencial, na entrevista, que tivesse impressionado a ele. Ele disse que o ponto essencial da entrevista que teve com Marilyn, foi o problema da liberdade sexual, menos bem conduzida. Ela se detivera com muito empenho na liberdade sexual, exercida com espírito de responsabilidade não tão segura, quanto acha que seria de desejar nos dias de hoje. Ela disse que pretendia voltar à Terra, talvez em tempo breve, para uma reencarnação, em que pudesse fazer uma revisão dos pontos de vista e das diretrizes que adotou na existência que acabava de deixar.”


130 — A TEORIA DO SUICÍDIO E OS SUICIDAS QUANDO SE REENCARNAM

P: — Parece que o suicídio é um ato de rompimento do plano de Deus, pelo qual se paga um preço. Assim, de que maneira e com que traumas se reencarnam as pessoas que se matam: a) por tiro no ouvido, b) por veneno, c) jogando-se embaixo de um carro, d) através de superexposição à radiação atômica?

  R: — “O suicídio está ligado ao senso de responsabilidade. Nosso Emmanuel sempre explica que nós somos culpados por aquilo que conhecemos como sendo uma atitude imprópria para nós. Porém nós temos, ainda, povos, que adotam o suicídio como norma de comportamento heroico. Temos comunidades no mundo que consideram o suicídio sob este ponto de vista. Demonstram que não possuem um conhecimento tão exato sobre a responsabilidade de viver, produzir o bem, como nós os cristãos fomos instruídos pelos Evangelhos de Nosso Senhor. Então, vamos dizer que a escola de Jesus, preparando nosso Espírito para a construção do mundo melhor, um mundo de amor e paz e não obstante os conflitos e guerras que temos sofrido, ou que estejamos sofrendo, nós então vemos que para nós o suicídio já adquire dimensões diferentes, porque nós somos chamados para valorizar a vida, a compreender o sofrimento como processo educativo e reeducativo de nossa personalidade. Então, o suicídio para nós, os cristãos, é algo de ingratidão para com os poderes supremos que regem os nossos destinos. O suicídio, para aqueles que conhecem a importância da vida, impõe um complexo culposo muito grande nas consciências. Então, nós os cristãos, que temos responsabilidades de viver e de compreender a vida, em suicidando, nós demandamos o além com a lesão das estruturas, do corpo físico, de forma que, se damos um tiro no crânio, conforme a região que o projétil atravessa, sofremos no Além as lesões consequentes. São os Espíritos doentes, os Espíritos enfermiços que recebem carinho especial dos protetores espirituais.”


131 — CASOS DE CEGUEIRA, CÂNCER, MUDEZ E PARALISIA NAS CRIANÇAS

Chico continua, sobre os suicidas: — “Mas o problema está dentro de nós e, na hora de voltar à Terra, pedimos para assumir as dificuldades inerentes às nossas próprias culpas. Assim:

  1. Se a bala atravessou o centro da f ala, naturalmente vamos retomar o corpo físico em condições de mudez.

  2. Se atravessa o centro da visão, vamos renascer com processo de cegueira.

  3. Se nos precipitamos de alturas e aniquilamos o equilíbrio das nossas estruturas espirituais, vamos voltar com determinadas moléstias que afetam o nosso equilíbrio.

  4. Quando nos envenenamos, quando envenenamos as nossas vísceras, somos candidatos, quando voltamos à Terra, ao câncer nos primeiros dias de infância, ao problema de fluidos comburentes que criam desequilíbrio no campo celular. Muitas vezes encontramos numa criança recentemente nascida um processo canceroso que nós não sabemos justificar, senão pela reencarnação, porque o Espírito traz consigo aquela angústia, aquele desequilíbrio que se instala dentro de si próprio.

  5. Pelo enforcamento, nós trazemos determinados problemas de coluna e caímos logo nos processos de paraplegia. Somos crianças ligadas, parafusadas ao leito durante determinado tempo, em luta de auto-corrigenda, de auto-punição, de reestruturação de peças do nosso corpo espiritual.”


132 — TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E A TRANSFUSÃO DE SANGUE

P: — Qual seria a situação do Espírito de uma criança que é levada à morte? Refiro-me ao caso do menino Dario, de São Paulo, que foi levado à morte, porque o pai é devoto de determinada religião e não adota a transfusão de sangue. De que maneira o Espírito dessa criança ficará afetado com isso?

  R: — “Nós nos acostumamos à liberdade de perguntar a nós mesmos se o pai teria tido tanta importância no caso como este em que muitos processos de leucemia, com pais amorosíssimos e, em matéria de assistência médica, também fizeram o máximo, mas os filhos também partiram. Digo assim, não que se possa avalizar a atitude deles. São criaturas que estão em desacordo com a evolução médica a ponto de impedir que a ciência médica atue para o bem de determinado enfermo. De minha parte, desde que o doente esteja sob minha responsabilidade, estarei com a medicina porque creio que a medicina está em nosso benefício. O médico é quem nos dá a cura, respeitando os processos de tratamento que possam nos oferecer. Desejo de minha parte, respeitar a crença religiosa desse homem quanto à atitude que ele teria tomado. Conversando com determinados amigos, nós nos lembramos que Moisés proibia a transfusão de sangue. Eu não tenho estudo muito profundo da Bíblia a esse ponto, mas creio que a lei Mosaica proibia a transfusão de sangue. Mas outras determinações de Moisés foram, naturalmente, esquecidas com a evolução do tempo. Então concluímos: quando Moisés proibia a transfusão, naquela época a ciência médica não havia ainda avançado tanto, que pudesse garantir a ausência de uma contaminação de hepatite, por exemplo, numa transfusão de sangue. Mas, com a evolução dos tempos, a medicina está perfeitamente habilitada a realizar transfusões de sangue, com o mínimo risco para o doente. Mas, os nossos irmãos que estão crendo nas observações de Moisés, devem ser respeitados, pois nós respeitamos muito esses amigos e as interpretações que eles possam ter. O menino foi naturalmente desligado da autoridade patriarcal e medicado conforme as leis do país. Creio mesmo que o menino não tinha condições para resistir. É realmente um caso interessante, para ser estudado com nossos irmãos, Testemunhas de Jeová, que são dos mais respeitáveis do movimento bíblico do mundo. Nós podemos dizer: “Meu Deus, se no tempo de Moisés havia perigo de hepatite, ou de outros processos infecciosos, depois de tantos séculos a medicina já sanou isso. E devemos crer na Medicina.”


133 — O PLANO DE UM ECUMENISMO BRASILEIRO

P: — Qual a possibilidade de um ecumenismo aqui no Brasil, para se unirem a religião Católica, o Espiritismo e as religiões afro-brasileiras, na criação de uma religião “Made in Brazil”?

  — “A criação de uma religião “Made in Brazil” seria maravilhosa.
Se as maiorias religiosas pudessem respeitar as causas minoritárias; se as grandes religiões, do ponto de vista de organização, pudessem suportar a presença das minorias sem ingerência nos assuntos que lhes dizem respeito, essa união seria uma das mais belas realizações. Mas, devemos trabalhar para a união fraternal com o máximo de entendimento para que isso seja alcançado. Precisamos de muita dedicação em nossos grupos religiosos para que nos respeitemos reciprocamente em torno de pontos básicos, quais sejam: amor a Deus, amor ao próximo, caridade da alma, caridade por dever e manutenção da paz através do trabalho na base da disciplina. Se todos pudéssemos estar unidos nesses pontos básicos, respeitando-nos no campo das interpretações do Evangelho, a religião no Brasil seria uma luz maravilhosa para toda a Terra. Vamos sonhar e vamos trabalhar para que isso aconteça respeitando-nos por irmãos…

A violência é uma criação humana das mais infelizes e a lei do Senhor determina que a consciência de cada um seja respeitada. Estamos caminhando para a união. Todos nós precisamos conservar a fé, entretanto acatando o próximo com o respeito genuíno, de quem compreende que Jesus é o Mestre de todos os cristãos, crendo em Deus, porque Deus não é propriedade particular de ninguém…”


Francisco Cândido Xavier

Emmanuel



[17] Transcrita do jornal “O Diário”, Ribeirão Preto, SP, 9 de outubro de 1974, sob o título “Chico fala de suicidas, Marilyn Monroe e Testemunhas de Jeová”.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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